Confira o artigo da presidente do Colégio Brasileiro de Radiologia e Imagem Diagnóstica (CBR), Cibele Carvalho, publicado no jornal Correio Braziliense
A radiologia se mantém como uma especialidade médica essencial e estratégica na assistência à saúde. Só no ano passado, quase 65 milhões de exames de diagnóstico por imagem foram realizados no Sistema Único de Saúde (SUS), graças à atuação direta dos médicos radiologistas
Em tempos de rápidas transformações na medicina e na sociedade, a radiologia se mantém como uma especialidade médica essencial e estratégica na assistência à saúde. Só no ano passado, quase 65 milhões de exames de diagnóstico por imagem foram realizados no Sistema Único de Saúde (SUS), por exemplo, graças à atuação direta dos médicos radiologistas, que, com precisão e assertividade, direcionaram o melhor tratamento para milhões de brasileiros.
Além da saúde pública, a radiologia é igualmente essencial para os milhões de pacientes atendidos pelos planos de saúde. Afinal, acesso aos serviços e equipamentos de diagnóstico por imagem é um direito de todos, tanto no SUS quanto na saúde suplementar. Mas apesar de sua importância inquestionável, atualmente enfrentamos um desafio que vai além da tecnologia, da inovação e da gestão: a tentativa de invasão ao ato médico.
Na semana em que celebramos o Dia Nacional do Médico Radiologista e Dia Internacional da Radiologia, 8 de novembro, aproveitamos a ocasião não apenas para homenagear os mais de 17 mil médicos radiologistas registrados no país, mas também para alertar a sociedade sobre um projeto de lei em tramitação no Congresso Nacional e que pretende legitimar a invasão ao ato médico na radiologia, sobretudo na prática da ultrassonografia.
A ultrassonografia é um procedimento médico, não invasivo, utilizado para reproduzir imagens dinâmicas, observadas em tempo real, dos órgãos internos, tecidos, rede vascular e fluxo sanguíneo, auxiliando, complementando e interagindo com outras especialidades médicas. Este método de diagnóstico por imagem compreende diversos campos dentro da medicina, que se expandem cada vez mais, como a cirurgia vascular, a dermatologia, a medicina de urgência e, entre outras, a medicina fetal ou medicina materno-fetal, que trata do binômio mãe e feto.
Esse projeto de lei, se aprovado, ameaça a qualidade e segurança do diagnóstico médico. A complexidade da ultrassonografia reside no fato de que as imagens documentadas durante o exame representam apenas uma fração das varreduras multiplanares observadas pelo médico. Por isso, a realização desse exame, por profissionais não médicos, não só traz riscos aos pacientes, mas também configura uma usurpação da função médica.
Nos 75 anos de história do Colégio Brasileiro de Radiologia e Imagem Diagnóstica (CBR) e de reconhecimento dessa área como especialidade médica, temos defendido, incansavelmente, que a radiologia é um componente intrínseco do ato médico. Trata-se de uma prática que não apenas exige conhecimento aprofundado, mas também habilidade clínica e sensibilidade humana que apenas os oito anos de formação médica e de especialização podem oferecer.
Desvincular a interpretação radiológica da prática médica subestima a complexidade da especialidade e coloca em risco a segurança do paciente e a qualidade do cuidado de saúde. O ato médico, definido pela Lei nº 12.842/2013, é o conjunto de atividades que visam a promoção, a proteção e a recuperação da saúde. Na radiologia, isso significa interpretar imagens com precisão e integrá-las ao contexto clínico do paciente, fornecendo diagnósticos assertivos e planos de tratamento eficazes.
A radiologia é, portanto, uma especialidade que, embora não esteja sempre à vista, é fundamental para o diagnóstico e tratamento em quase todas as áreas da medicina. Médicos radiologistas são os especialistas que, com um olhar acurado, interpretam as nuances das imagens, transformando dados em análises, e incertezas em planos de ação.
Na celebração do nosso dia, reafirmamos o compromisso com a defesa do ato médico na radiologia e com a saúde do povo brasileiro. Que possamos continuar iluminando os caminhos da medicina com a luz da radiologia, para que nenhum diagnóstico fique nas sombras e nenhum paciente sem respostas. Afinal, a radiologia é mais do que uma especialidade médica; é uma promessa de clareza, uma ferramenta de cura e um campo que continuamente redefine o possível na medicina.
Cibele Carvalho – Presidente do Colégio Brasileiro de Radiologia e Imagem Diagnóstica (CBR)